Começo dizendo que quando eu tinha
mais ou menos 04(quatro) anos, em uma reunião em família, minha mãe disse:
Menina, eu mando em você viu? E
ela conta que eu respondi... “pirinquanto”.... de por enquanto... (risos).
A verdade é que o meu pirinquanto
durou até os 30(trinta) anos de idade quando eu saí de casa.
E aí entra meu Pai...
Meu pai sempre foi um pai muito
amoroso e presente. Viveu a vida pelos filhos. A vida dele era a nossa. A
felicidade dele era a nossa.
Lembro-me de não ter ainda 5 anos
e já sair com ele aos sábados de manhã para ir à feira, ao mercado, padaria, eu
e os meus irmãos. Era muito gostoso.
Só que ele também era muito
superprotetor e controlador. Fato! Eram suas características também. Assim como
a inteligência e a sensibilidade. Um homem sério e de poucas palavras.
Várias vezes ele me disse que eu
era uma pessoa muito sensível, emotiva e de espírito livre.
É... nossos pais nos conhecem
mais que nós mesmos.
Tudo verdade. Principalmente, espírito
livre. O que nunca quis dizer desapego as minhas raízes e as pessoas.
Sempre fui mais independente e
embora ame as pessoas, sempre gostei de viajar sozinha, ir ao cinema sozinha,
ficar sozinha... sempre tive um “q” de ermitão. E o mais engraçado que ele
também era assim.
Bom, enfim chegou uma hora que eu
precisava viver a vida que eu queria.
Não concordava com algumas
coisas, mas enquanto estava dentro de casa, sempre respeitei e fiz tudo do
jeito dele. Por puro respeito. Sempre achei que se a pessoa quer mandar na
própria vida, fundamentalmente tem que se bancar, especialmente,
financeiramente e emocionalmente.
Sempre achei errado dizer a vida
é minha, estando na casa dos meus pais. Então, nunca disse e raramente
contrariava.
E em 2007 eu saí de casa para
morar sozinha. Fiz 4 anos de terapia antes para ter a coragem de fazer algo que eu
sabia que iria contraria e muito meu pai. Eu sempre soube que isso acabaria com
ele e também comigo.
Só que eu precisava disso na
minha vida. Precisava da experiência de morar sozinha. Eu sempre disse que era
uma necessidade da minha alma, até antes de decidir um dia ter um marido e uma
família. E assim aconteceu. Eu precisava me encontrar. E cada um é cada um. O
que serve para mim, não necessariamente serve para você.
Quando saí de casa, confesso que
não fiz do melhor jeito. Só que até hoje, quando penso em outra forma, ainda não
consigo enxergar outra.
Meu pai ficou 10 (dez) meses sem
falar comigo. Eu ia a casa dele e ele não falava comigo. Isso me matou.
Ele sempre achou que filha mulher
só poderia sair de casa, casada e que eu sair era virar as costas para ele e
para família.
Nunca foi isso.
O que ninguém sabe é que nesse
primeiro ano que saí de casa, eu fiquei com uma profunda depressão. Precisei tomar
remédio. Nunca foi como todos possam ter imaginado e principalmente ele, ou
seja, que ele estava arrasado e eu super feliz curtindo a vida como louca.
Quando tomei essa decisão, eu
sabia que seria assim, tanto para ele como para mim.
E, mais ou menos 4 anos depois
disso, meu pai ficou doente. Foi internado correndo. Foi diagnosticado com câncer
terminal, nível 4. Não tinha absolutamente nada para fazer por ele.
Ele foi internado e depois de exatos
30 dias, ele faleceu.
Tirei minhas férias e mais dez
dias de licença para ficar tempo integral com ele.
Foi a minha melhor decisão. Nesse
tempo, reestabelecemos a relação, de uma forma muito intensa.
Mesmo não achando que fiz nada de
errado em sair de casa, pedi perdão para ele, pois achei que talvez para ele,
isso fizesse a diferença. Ele não disse nada, simplesmente me olhou com olhar
típico dele, como se dissesse, não fala besteira. Não precisa me pedir perdão de
nada.
Para completar, no meio de toda
essa história, a vida me pregou uma peça. Uma peça que foi uma benção e uma lição.
Descobri que estava grávida em um
dia e no outro meu pai faleceu. Uma benção porque meu filho não é nada mais do que uma benção, ele é minha vida. Uma lição, pois depois de ser mãe tive a
capacidade de entender melhor meu pai e toda a mágoa dele.
Hoje, não mudaria minha decisão,
mas faria muita coisa diferente. Não deixaria nada me afastar dele. Teria ido
ver ele tantas vezes fosse... mesmo ele sem falar comigo.
Teria capacidade para saber que
mesmo ele querendo me matar, continuava me amando incondicionalmente. Teria
mais sensibilidade. Seria menos orgulhosa. Menos turrona.
Tenho mais dele do que podia
imaginar. Sou muito parecida com ele na criação do meu filho e no meu amor por
ele.
Já estou me preparando para o dia
em que meus filhos me digam: Vou morar fora. Vou morar sozinho. Enfim, vou
viver minha vida.
O desapego para aceitar deve ser
enorme. Com certeza, isso não é fácil para um pai e uma mãe, embora seja sinal de
maturidade e boa educação. Afinal, temos que criar os filhos para a vida e não
para nós.
Penso que quando um filho é
independente e consegue viver a própria vida, é a certeza de que criamos bem.
Nunca deixei de amar meu pai e
nem de reconhecer tudo que ele fez por mim.
Quando ele estava no hospital
tive a certeza de que ele sempre soube disso.
E em um dia qualquer nessa
temporada de hospital, eu me despedi dele dizendo, te amo. E ele me respondeu....
me too.
E esse me too ecoa até hoje nos
meus ouvidos, no meu coração e na minha alma.
Hoje eu digo para você pai: ME
TOO.
Feliz dias dos Pais.
Com amor Roberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário