terça-feira, 30 de agosto de 2011

A partida...

Olá,

Para aqueles que ainda não sabem, perdi meu pai nesse último dia 21/08.

Ele descobriu que estava com câncer no pulmão, há um mês, exatamente dia 22/07, data em que ficou internado.

Foi um mês muito difícil para mim e todos da minha família. Só para situar, eu tenho mais dois irmãos (uma mulher e um homem).

Passamos o mês inteiro no hospital. Eu tirei, inclusive, minhas férias para poder ficar com o meu pai no hospital e revezar entre os meus irmãos e minha mãe. Melhor decisão que tomei. Vou agradecer até o fim dos meus dias por ter feito desta forma.

Tudo foi muito repentino e rápido. Mal tivemos tempo de assimilar as coisas. Para nós, ruim, não só pelo choque, mas pelo pouco tempo com ele (um mês) e pela perda. Para ele, meu pai, uma benção. Afinal, acredito que se ele não ficou sofrendo muito tempo com essa doença, é porque tinha merecimento. E como essa doença castiga!!!

Por pior que fosse, consegui ter ótimos momentos com ele e para mim, isso foi muito importante (essencial). É, poder estar ao lado dele, nessa fase tão difícil, foi essencial na minha vida. Ele viu e sentiu como é amado e importante para nós (embora soubesse). Praticamente paramos a vida, só para estar com ele (eu, meus irmãos e minha mãe).

Meu pai era um homem de poucas palavras, mas tive ótimas conversas com ele esses últimos dias (ainda que resumidas, bem significativas). Sem contar à cumplicidade que se formou.

Na doença, enxergamos a fragilidade humana, não só de quem está doente, mas de quem ama o doente. Dividimos muitas coisas (nós e ele) nesse último mês, muitas delas tristes e sofridas. Porém, muitas coisas boas. Tivemos um excelente dia dos pais. Muito especial.

Exerci muito a humildade e a dedicação, não só pela situação do meu pai, mas porque vi muitas coisas, muitos doentes, muitos morrendo, famílias sofrendo. Só que em meio a tudo isso, vi muita união de todos. Fizemos amizades com os parentes de outros doentes, sorrimos juntos, choramos juntos, compartilhamos a dor, nós com eles e eles conosco.

Não tem sofrimento maior do que saber que uma pessoa que amamos está morrendo, principalmente, quando ela, no seu íntimo, também sabe disso. Não há palavras que cabem e que consolam. Não há o que dizer, só o que fazer, isto é, estar ao lado, dando força. Aliás, a única coisa que cabe dizer, na minha opinião é, eu te amo e isso eu disse infinitas vezes. 

Superar a dor? Eu acredito que não. Penso que apenas arrumamos forma de continuar a vida, em que pese à existência da dor.

O que consola? As lembranças boas, os ensinamentos bons, que ele não sofreu muito e que com certeza está em um lugar infinitamente melhor, onde não existe doença, dor e sofrimento.

Em meio a tudo isso, eu ainda descobri que estou grávida. Fiquei sabendo disso no dia 20/08 e meu pai faleceu dia 21/08. É, muitooooo complicado, mas isso é uma outra história.

Um conselho? Bom, por tudo que vi, por todas as leituras a respeito e pelo que conversei com médicos, o câncer, hoje em dia, não é mais condenação de morte. Muito pelo contrário. Porém, exames de rotina (periodicamente) são fundamentais. O câncer descoberto no estágio inicial é totalmente passível de cura e tratamento.

Arrependimentos? Sim, um. Sempre achamos que teremos o amanhã pra dizer ou pra fazer algo ou que teremos o próximo mês, o próximo ano. Meu arrependimento é de não ter me tocado que nada é eterno, inclusive, ou principalmente, as pessoas.     

De fato, a morte e a vida, ambas, são misteriosas.

Sei que ele (meu pai) está em mim e eu estou nele, por toda eternidade.

Vai em paz meu pai amado, meu pai querido.

Beijos e até o próximo post...


domingo, 28 de agosto de 2011

O tempo não existe.


Olá,

Esses dias vi esse texto no facebook e achei ótimo.


Passei a acreditar que a felicidade mora na inexistente fração de tempo em que o passado toca o futuro. 

Se o passado é distração e o futuro, preocupação, sobra para nós, perseguidores da felicidade, a inexistente ilusão do presente, em que tu és o que tu fazes, e nada nem ninguém mais importa. 

Isso é felicidade.




Agora te concentra e tenta materializar um momento que não acontece jamais. 

Sorria, pois já é quase dia e tu tens que acordar cedo.


(Texto de autoria: Consciência Jovem)








Beijos e até o próximo post



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Canção do Tamoio - Antônio Gonçalves Dias

Olá,

meu pai também recitada essa poesia.

Beijos e até o próximo post...

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Canção do Tamoio
(Natalícia)
Antônio Gonçalves Dias

I

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida, É luta renhida: Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.


III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.





segunda-feira, 22 de agosto de 2011

MINHA INFÂNCIA QUERIDA ....AH QUE SAUDADES QUE TENHO...


Olá,


Quantas saudade estou da minha infância querida que os anos não trazem mais...

Época boa, época mágica...Eu tive uma infância ótima.

Pés descalços, risos, pai, mãe, irmãos, união...

Essa minha veia literária, poética e filosófica é legado do meu pai.

Cresci com o meu pai recintando poesias e trechos de obras literárias.

Ele ia de Castro Alves, Gonçalves Dias à Machado de Assis, com tanta facilidade e que memória.

Então, sentado à mesa, algumas vezes jantando...ele começava:

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
 
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá. (...) 
- Gonçalves Dias.



E por aí...ele vai... hoje recita menos...mas ainda recita...

Então, o poema abaixo é para o meu PAI.

Passamos um ótimo dia dos pais ontem em família. Sou grata por isso. 

Beijos e até o próximo post....

mEUS OITO ANOS - mINHA INFÂNCIA QUERIDA! - CASIMIRO DE ABREU

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar - é lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!


sábado, 20 de agosto de 2011

Superar e viver!

Olá,

Foi lendo uma revista do ICESP (Instituto do Câncer de São Paulo) que soube do Vinícius.

Aos 17 anos, o jogador de basquete, com grandes possibilidades de jogar profissionalmente, descobriu um câncer no osso do joelho.

Após anos de tratamento sem o câncer ceder (reduzir), Vinícius tomou a maior decisão da sua vida, amputar a perna, dois dedos acima do local do tumor.

E assim foi.

Para aqueles que pensaram que Vinícius desanimou e que sua vida de esportista acabou, enganou-se.

Vinícius, hoje, com prótese na perna, joga basquete e leva uma vida normal.

Vinícius afirma quanto ao time que quer ser tratado com igualdade, derrubar e ser derrubado no jogo, pois do contrário fica bravo.

Admirável, né?

Um exemplo a ser seguido!



Beijos e até o próximo post...
  

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Fatos da vida!

Olá, 


Segue mais um dos meus textos.


A pessoa que sou hoje;
Não é mais a pessoa de ontem;
Nem será a pessoa de amanhã;
A vida traz os fatos; 
E eles nos transformam, mesmo que compulsoriamente. 



Beijos e até o próximo post

sábado, 13 de agosto de 2011

Matuto valente!

Olá, 

Vou falar um pouquinho da história do "Seu Antônio".

O "Seu Antônio" é um doente terminal de câncer.

Internado há mais de 05 meses em um hospital, houve momentos em que eu tive certeza que daquela noite ele não passaria.

Só que "Seu Antônio" surpreende com sua fé e esperança na vida.



Mesmo após o comunicado dos médicos à família que ...."a vida de "Seu Antônio"  era questão de dias"...ele se mantem firme e lutando.

MATUTO VALENTE!

"Seu Antônio" desafia a morte, com a própria vida.

Há dias em que ele não passa bem. Porém, nas últimas semanas ele está muito melhor.

Hoje quando fui visitar meu amigo da roça, ele estava sentado e tomando sol. Ah e voltou a comer...

Então perguntei:

Como o Senhor está "Seu Antônio"?

E ele respondeu: "Tô lutânu fia. Fé e esperança não me fartam".

E assim, os dias de "Seu Antônio" (que os médicos deram) viram meses...

"Seu Antônio", eita Hôme porreta que tá dando nó na própria morte.

Fico feliz de ver que ele está bem e se recuperando.




Se ele é terminal? Sinceramente, eu não sei e creio que nem os médicos, com todo respeito, já que estou vendo nele que a força de vontade e o ânimo de viver conseguem muita coisa.

Isso é com o cara lá de cima e com a própria pessoa.

Beijos e até o próximo post...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A morta em nossa vida...o mistério da morte não é maior que o mistério da vida.

Olá, 


Já tem um tempinho que queria escrever um texto sobre o mistério da morte.

Então, lendo uma das minhas mil revistas compradas e não abertas, encontrei esse texto.

Achei ele tão ótimo, tão esclarecedor que resolvi publicá-lo.

A morte sempre foi algo misterioso para mim. 

Enfim, o texto vale muito a pena ler.

É um texto otimista.

Beijos e até o próximo post...    



A morte em nossa vida!

Revista Vida Simples nº 92 01/05/2010 - Por Eugênio Mussak

Todo mundo sabe que a única coisa verdadeiramente certa na vida é que vamos morrer. Então por que temos imensa dificuldade em lidar com esse tema tão humano?
– Você está com medo? – perguntou a jovem Caroline a sua mãe, que se encontrava no leito de morte.
– Não, estou curiosa – respondeu Daisy Fuller, que então sorriu e, como que para fazer as pazes com a vida, começou a contar à filha um segredo do passado: sua relação com um tal Benjamin Button, homem que nasceu velho e foi rejuvenescendo até morrer como um bebê. O relato era um desabafo e Caroline termina por descobrir que o fantástico homem era seu próprio pai.

A passagem acima foi retirada de um conto do escritor americano F. Scott Fitzgerald, que foi publicado em 1921 e em 2008 virou o filme O Curioso Caso de Benjamin Button, dirigido por David Fincher e interpretado por Brad Pitt e Cate Blanchett. Conta a história de um homem que tem uma trajetória de vida oposta à natureza humana: ao invés de envelhecer, ele rejuvenesce. Quando escreveu o bizarro conto, Fitzgerald estava subvertendo a maior das angústias humanas: a percepção do envelhecimento e a certeza de seu epílogo, a morte.

Se pudéssemos escolher, preferiríamos ver nosso corpo melhorar com o tempo, não deteriorar-se inexoravelmente como um prenúncio do fim. Como não temos esse poder, só nos resta a imaginação, com a ajuda da literatura e do cinema.
Mas Benjamin Button não é Connor MacLeod, o Highlander, o imortal guerreiro escocês nascido no século 16. Benjamin vive o tempo de uma vida, e mostra que ainda que tentemos – e até certo ponto consigamos – segurar o tempo, não teremos como vencer a morte. A anciã Daisy conhece essa verdade e lida com ela com a sabedoria de quem viveu intensamente. Por isso não teme, apenas está curiosa.

Este é um tema campeão na literatura universal, empatando, talvez, com o amor. E ambos estão, comumente, ligados, como em um Romeu e Julieta em distintas versões. É possível que amemos tanto a vida porque temamos tanto a morte. Mas devemos então evitar a vida para ter a ilusão de não morrer, como alguém que não quer um cãozinho porque sabe que vai sofrer quando ele morrer? Não, pois o mistério da morte não é maior que o mistério da vida, uma categoria pertence à outra. Perceba que viver pressupõe morrer, e morrer significa ter vivido. São indissociáveis. Estamos diante de um mistério único que, por escapar à nossa compreensão e ao nosso controle, nos angustia e infelicita.

Certo esteve Epicuro ao dizer que não temia a morte pelo simples fato de que jamais a encontraria, pois enquanto ele estivesse vivo a morte não estaria presente, e quando ela aqui estivesse ele não estaria mais. O argumento do filósofo tem uma lógica perfeita. O problema é que nós não encaramos a morte com a lógica e sim com a emoção.
Como seres pensantes que somos, tentamos racionalizar repetindo aquelas verdades que no fim não consolam, como “Para morrer basta estar vivo” ou “Começamos a morrer quando nascemos”. São frases epicuristas, todas encerram uma verdade, só que, quando o assunto é a morte, preferiríamos a mentira, a ilusão da imortalidade, o engano de que só existe vida.

“Eu não quero ser imortal por minha obra. Quero ser imortal não morrendo”, desabafou Woody Allen, em um de seus momentos geniais. Lamento, Woody, mas não será possível. O que nos resta é viver como se não fossemos morrer, pensando e glorificando o milagre da vida, senão morreremos antes de morrer, como explicou Freud em seu O Mal-estar na Civilização, onde coloca a perspectiva da morte como uma das principais causas da infelicidade humana. Morrer antes de morrer significa não viver apesar de estar vivo.

A lógica de Epicuro, a ciência de Freud e o humor de Woody Allen estão todos certos, errados estamos nós que sofremos pelo que não controlamos porque nos acostumamos a pensar que somos deuses, que a razão nos dá o controle, que a vontade é infinita. De repente descobrimos nossas limitações e nos desesperamos. Eu e você morreremos, sim, e isso está certo. O errado é morrer antes de morrer, é não encarar a vida com humor e gratidão, é perder a oportunidade de deixar este mundo melhor com a própria presença.

Expirando em seu leito, o imperador Augusto, por exemplo, pediu um espelho para ajeitar as madeixas e disse aos que o amparavam: “Se vocês gostaram da encenação, aplaudam, para que eu possa sair de cena feliz”. Certo o romano. Morrer é sair de cena, e só nos resta aceitar que a peça terá um fim e que devemos interpretar nosso papel como virtuoses deste teatro fantástico.

O segredo para não sofrer com a morte não seria acreditar que ela é apenas uma fase da vida eterna?
O segredo para mitigar o sofrimento está, sim, em acreditar em algo, pois o que nos mortifica é a dúvida. O homem é feito de razão, emoção e crença, e esta última é construída a partir da matéria que compõe as duas primeiras. Crenças são criadas a partir de valores e desejos, existem para tornar nossa vida melhor e só podem ser questionadas por quem as possui. Epicuro, por exemplo, antecipou a teoria atômica dizendo que tudo é formado por minúsculas partículas em movimento, e acreditava que isso valia para nosso corpo e também para nossa alma. Dizia que o homem e sua alma nada mais são que matéria em movimento, e que quando esse movimento fosse interrompido não restaria mais nada, seria nosso fim. Essa era sua crença, o que lhe deu tranquilidade até para brincar com esse destino.

Já para os budistas, a morte é uma ilusão, pois nada morre de verdade, muito menos a alma, nossa verdadeira essência. O que importa é alcançar o nirvana, o paraíso. Este seria um estado psicológico elevado, amoroso e sem ansiedade, o que só pode ser alcançado com desapego e meditação. Em outras palavras, para alcançar o nirvana do céu e virar eterno, o homem precisa construir seu próprio nirvana na terra, a partir de suas atitudes.

Aparentemente opostos, os pensamentos epicurista e budista têm algo em comum. Ambos creditam à vida como a conhecemos todo o mérito. Para o epicurismo esta é a única vida, portanto merece ser vivida plenamente; para o budismo o nirvana final, espiritual, só será alcançado através do nirvana terrestre, psicológico. Ambas as teorias propõem que se dê valor à vida, procurando fazer o bem e transformando- a em algo que valha a pena.

Já que não podemos fingir que a morte não existe, só nos resta criar a crença mais confortável. A morte é um mistério, mas a vida também é. Só que temos a ilusão de entender a vida porque ela pode ser percebida pelos órgãos dos sentidos. Medimos, pesamos, tocamos a vida. A morte não, ela é metafísica, está além de qualquer interpretação lógica. Sabemos o que é o fim da vida, mas não sabemos o que é a morte.

Como não sabemos, só nos resta acreditar. E crença é imaginação, não certeza, mas seu poder é irrefutável, pois é capaz de usar os pensamentos para acalmar os sentimentos. No fim é isto que importa, pensar e sentir para poder viver. Há apenas dois modos de abordar a morte enquanto existe vida: ignorá-la ou pensá-la. A primeira de nada adianta, enquanto a segunda ao menos traz mais cartas para o jogo da vida, criando novas perspectivas.

A morte também está presente nos fatos do cotidiano, nas separações, nos fins de ciclo. Não deveríamos estar mais acostumados a ela?
No fundo, o que assusta na morte são três fatores: o desconhecido, que é sempre amedrontador; a resistência a abandonar a vida, o que é próprio dos instintos; e, digamos, a passagem, que pode estar carregada de sofrimento. Como diz um amigo meu, com seu humor peculiar: “Acredito que a vida e a morte sejam, ambas, boas. O problema é a transição”.

Estamos, sim, acostumados com a ideia da morte. Nós provavelmente nunca nos acostumaremos é com a presença da morte em nossas vidas. Aceitamos a morte, pois somos racionais, mas reagimos fortemente a ela em duas circunstâncias: quando é prematura ou quando é próxima.

Não gostamos de saber que gente jovem morre, não parece natural. Há um quê de injustiça nos soldados que não voltam da guerra, nos rapazes e moças que se misturam às ferragens de seus carros nas noites de fim de semana, nas crianças com leucemia nos hospitais ou com fome nos países miseráveis. Ninguém deveria morrer sem ter tido a chance de viver bastante, pensamos.

Como também não gostamos da morte por perto, ceifando alguns dos nossos, levando nossos avós, convocando nossos pais. É quando a morte é má de verdade, porque nos priva de nossos entes queridos e porque se faz lembrar, se mostra com força e faz questão de deixar claro que vai voltar, é apenas uma questão de tempo.

Pelo menos a maioria de nós tem motivos para se alegrar por ter vivido. Seja qual for o mistério, a aventura de viver é muito boa, apesar dos percalços, claro. Não é possível não conhecer o sofrimento, pertence à nossa condição de viventes. E entre eles, às vezes camuflada pelo cotidiano, está a morte, espreitando.

A fé, a psicologia, a filosofia, a literatura, o misticismo, todos são pródigos em abordar o tema da morte, mas nunca um desses construtores do pensamento humano teve coragem para negar dois fatos: que todos teremos de lidar com a morte, nossa e de outros – e que nós sofreremos inevitavelmente com isso.

Provavelmente não seria inteligente não morrer, a vida eterna seria muito cansativa. Mas, com certeza, não é inteligente morrer antes de morrer. Por isso, um texto sobre a morte é inócuo, a não ser que seja uma conclamação à vida. Viver de verdade é a única garantia de que, quando chegar a hora, tenhamos mais curiosidade que medo, como aconteceu com Daisy Fuller.
Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril.
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